Um país que anda constantemente numa rotunda e que tarda em perceber qual a direcção que deve tomar para dela sair.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Peste Negra do Séc. XXI (II)

O Expresso publicou esta semana uma entrevista muito interessante com o ex-Governador do Banco de Portugal, Silva Lopes, em que este defendia um sistema de poupança obrigatória.

A ideia é muito simples e interessante, como a populaça já por diversas vezes mostrou total incompetência para gerir o seu (parco) património, contraindo galopantemente crédito junto da banca, sem capacidade depois para o pagar, uma percentagem do seu rendimento deveria obrigatoriamente ser depositado todos os meses junto de um banco (numa conta aberta em nome dessa pessoa) para fazer face a eventuais "contratempos futuros" (por exemplo ter que pagar o que deve).

Bem sei que é uma medida própria de um processo de interdição aplicável a casos de anomalia psíquica, mas receio bem que a medida faça todo o sentido e seja plenamente adequada ao estado de desgraça a que chegámos em pleno séc. XXI.


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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Igualdade?


Lê-se aqui que o líder da Aliança para o Futuro da Áustria (BZOe) mantinha uma relação amorosa com o seu antecessor, Joerg Haider, com o conhecimento da mulher deste. Há uns tempos - e porque o fantasma da extrema-direita ainda pesa muito na Europa - um pouco por toda a parte (e, desde logo, na Tertúlia Liberal), muitos não hesitaram em colar Haider à extrema-direita, outros aos movimentos conservadores, todos à direita em geral.

Sobre esta matéria há duas notas que queria deixar: uma de cariz político, outra sobre concepções pessoais sobre política legislativa.

Começando pela componente política, de nada me choca que dois políticos austríacos de direita entendam viver a sua vida segundo as suas preferências. A veracidade das revelações de uns, omissões de outros ou modelos familiares do conjunto de pouco me importam: cada um segue as suas convicções com a liberdade de que todos beneficiamos e sem que a concepção moral de cada um nos deva servir para julgar os outros (o que, inevitavelmente, sempre fazemos).

Mais... De pouco interessa que se movimentem na área política da direita: o posicionamento político tem mais que ver com concepção de Estado e grau de intervenção deste na economia, mais do que com convicções éticas (ainda que sociológicamente coincidam com frequência).

Agora a “causa fracturante” que alguns senhores entenderam discutir a meio de uma crise económica mundial que parou a nossa economia e cujos efeitos ainda não parecem ter sido eliminados: o casamento dos homosexuais. Confesso não ser fã de política panfletária (muito em voga entre nós nas franjas, à direita e à esquerda): porque nada (de verdadeiramente fundamental) resolve e porque pouco (de estruturado) constroi. Mas vale a pena pensar se a resolução destes problemas, se solucionados a contento das “minorias vanguardistas e igualitárias” são culturalmente inaceitáveis... Por muito que direito não seja cultura.

O direito não é cultura mas não deixa de ter um forte pendor cultural. A observância das leis passa também pelo grau de identificação entre a comunidade e a normatividade que lhe é imposta, sendo certo que essa identificação deriva em larga medida de um determinado contexto socio-cultural. Parece ser isso que justifica a existência de sistemas jurídicos relativamente identificáveis como “grupos”, parece ser isso que enquadra as suas diferenças e/ou factores de homogeneidade entre si.

Dando como certo que conceber o casamento como uma instituição fundamental do nosso sistema jurídico pressupondo que é contraído entre duas pessoas de sexo diferente é claramente cultural, como é cultural (e não obrigatório) entender o casamento como orientado para a reprodução (que não o esgota nem “segura”), não sou favorável ao casamento entre homosexuais. Dêm aos casais - qualquer que seja a sua orientação sexual - os mecanismos adequados para reger a sua vida e património, mesmo para além da primeira. Mas não acabem com a instituição, não a descaracterizem.

Questão de nomenclatura? Porventura. Mas se é reprovável negar um direito por uma questão de nomenclatura, não é menos reprovável exigi-lo apenas por isso. Que se encontrem mecanismos alternativos (que, refira-se, já existem ainda que com a limitação da quota indisponível)...

A propósito: quando se reclama a igualdade para exigir a admissibilidade do casamento entre homosexuais, a ninguém ocorre que um bígamo (porventura até por questões religiosas), um bisexual ou um transsexual padeça da mesma discriminação? Que fazer quanto a isso: não é também cultural discriminar?

Voltando ao início: não basta aos Senhores do BZOe serem discriminados por serem desalinhados com o pensamento político dominante (ser de direita não é chique, nos dias que correm...): tornam-se agora motivo de conversa por não terem as preferências sexuais da maioria ou, para o que para alguns importa, sequer da minoria mais expressiva...
Tudo isto "espremido" subsiste a pergunta: a nossa vivência em comunidade melhoraria alguma coisa com tudo isto? É só espuma, porque a política já não abunda.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Presidente do Mundo


De acordo com as últimas sondagens, Barack Obama será eleito presidente dos EUA.

A decisão não é fácil. Se abordarmos os principais temas, política fiscal e social, economia, política externa, só talvez neste último caso seja possível demarcar uma fronteira nítida entre os dois candidatos, e se calhar mais aparente do que se julga. Não deixa de ser interessante analisar as habituais guerrinhas esquerda, que apoia Obama, e direita, que apoia McCain, mas o que verdadeiramente os distingue é o manto de imprevisibilidade de Obama.

McCain será mais um presidente da história dos EUA, de certeza melhor que o seu antecessor e pior que o antecessor deste (no último debate, o mais interessante de todos, disse olhos nos olhos a Obama: "I am not President Bush"). Obama, que é certamente a pessoa no mundo mais segura e auto-confiante a dar apertos de mão e a saudar multidões que eu conheço, ninguém sabe muito bem o que representa ou pode vir a representar para os EUA. Carrega consigo uma forma diferente, é verdade que é uma forma anti-Bush, mas é também uma forma que ilude e faz sonhar. É esta forma que prevalecendo sobre o conteúdo, faz acreditar, mas também faz duvidar sobre o que dali pode vir para os EUA e para o mundo.
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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O milagre do sol - verdade ou mito?

O chamado Milagre do Sol foi um fenómeno testemunhado por cerca de 50.000 pessoas em 13 de Outubro de 1917, na Cova da Iria, perto de Fátima.

As estimativas do tamanho da multidão variam de "trinta a quarenta mil" por Avelino de Almeida, escrevendo para o jornal português O Século a cem mil, segundo estimativa de José de Almeida Garrett, professor de ciências naturais na Universidade de Coimbra. Ambos presenciaram o fenómeno.

As crianças haviam relatado em datas anteriores que Nossa Senhora tinha prometido um milagre para o meio-dia de 13 de Outubro, na Cova da Iria, "de modo que todos pudessem acreditar."
De acordo com muitas indicações das testemunhas, após uma chuva torrencial, as nuvens desmancharam-se no firmamento e o Sol apareceu como um disco opaco, girando no céu. Algumas afirmaram que não se tratava do Sol, mas de um disco em proporções solares, semelhante à lua. Disse-se ser significativamente menos brilhante do que o normal, acompanhado de luzes multicoloridas, que se reflectiram na paisagem, nas pessoas e nas nuvens circunvizinhas. Foi relatado que o pretenso Sol se teria movido com um padrão de ziguezague , assustando muitos daqueles que o presenciaram, que pensaram ser o fim do mundo. Muitas testemunhas relataram que a terra e as roupas previamente molhadas ficaram completamente secas, num curto intervalo de tempo.

De acordo com relatórios das testemunhas, o Milagre do Sol durou aproximadamente dez minutos. As três crianças, relataram terem observado Jesus, a Virgem Maria, e São José abençoando as pessoas dentro ou junto do Sol. Outras testemunhas afirmaram ter visto vultos de configuração humana dentro do Sol quando este desceu.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Da série: História



O Estado Novo aprova em meados da década de 30 "Leis de interdição ou restrição ao casamento", que visavam fundamentalmente impedir que as mulheres pudessem ter uma profissão.

Salazar é claro quando afirma de viva voz: "As mulheres não compreendem que não se atinge a felicidade pelo prazer, mas sim pela renúncia. As grandes nações deveriam dar o exemplo, conservando as mulheres no lar. Mas as grandes nações parecem ignorar que a constituição sólida da família não pode existir se a esposa viver fora da sua casa."

Por exemplo, em 1936 é aprovado o Decreto-Lei de 24 de Novembro que estabelece no seu artigo 9º que o casamento das professoras não poderá realizar-se sem autorização do ministro da Educação, sujeitando tal autorização a um conjunto de condições (ex: "Ter o pretendente vencimentos ou rendimentos documentalmente comprovados, em harmonia com os da professora").

Em 1942, a profissão de enfermeira passa a ser reservada a mulheres solteiras ou viúvas sem filhos. Os hospitais tinham de dirigir um pedido de autorização de casamento ao ministro do Interior, pedido que em geral era recusado.

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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A Peste Negra do Séc. XXI


É unânime entre os analistas que a actual crise dos mercados financeiros resultou do problema sub-prime, que mais não é do que impossibilidade de alguns (muitos) clientes de bancos poderem cumprir com o crédito à habitação (e outro) acordado com o seu banco. De facto, se bem nos recordamos, a subsequente venda em massa deste tipo de crédito a outras instituições financeiras que depois trataram de empacotar tudo em novos produtos financeiros agravou o problema e desencadeou o efeito "dominó" que todos nós conhecemos.

Ora, se estamos de acordo quanto a este ponto, não deixa de ser no mínimo absurdo que nesta altura, em que se discute a legitimidade de planos paulsons e nacionalização de algumas instituições financeiras, que se pretenda responsabilizar na íntegra essas mesmas instituições financeiras pelo sucedido.

A constante desresponsabilização do povão que tendo 100 de rendimento contrata um empréstimo em que se vê obrigado a pagar 95 ou vários empréstimos de 30 não é mais do que um sinal dos tempos modernos. Aliás a actual crise é uma espécie de peste negra do século XXI em que todas as pessoas querem tudo e já, não querendo assumir as consequências do que contratam. Se o meu vizinho tem um lcd eu também tenho que ter, etc.

A tudo isto acresce a passividade do poder político em Portugal, e não só, que durante todo este período assobiou para o ar, mostrando até alguma satisfação pelo estado quase eufórico com que a generalidade da população encarava a sua vida e deixava de lado os reais problemas que esse poder político deveria resolver.


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